Matérias primas ecologicamente corretas e o reaproveitamento de roupas são alternativas
Algodão orgânico, couro de peixe, jeans de seda e garrafa pet. Foi-se o tempo em que esse tipo de matéria-prima figurava como tendência e era apenas usada nas roupas da modelos que desfilam em passarelas como as da São Paulo Fashion Week. Porque os tecidos alternativos conquistaram os holofotes do mercado de moda.
Materiais que procuram incentivar o consumo ecologicamente correto figuram em marcas de estilistas famosos, como Alexandre Hercovich e Osklen. Ao empregá-los em suas coleções, as grifes dão prova de eles não perdem em nada para os materiais produzidos de modo tradicional.
É o caso das roupas feitas pela marca gaúcha Budha Khe Rhi, dos sócios Cláudio Stein, Marcelo Schmidt, Guilherme Dias e Ana Paula Lago. Há cerca de cinco anos, eles criaram a linha Eco, que fabrica camisetas, calças e vestidos a partir de materiais como fibra de bambu, algodão orgânico, tecidos reaproveitados, fibra de garrafa pet, modal e fibra de cânhamo, e vendem em lojas situadas em bairros nobres da Capital e nos litorais gaúcho e catarinense. Em breve. uma nova loja será aberta na Cidade Baixa.
A qualidade dos produtos já levou a marca a ser reconhecida além da fronteira do Estado. Junto com a franquia em Volta Redonda, no Rio, este mês a empresa abre loja também em São Paulo, nos Jardins. As peças vestem apresentadores de TV, como Mari Moon, da MTV, e outros famosos do eixo Rio São Paulo, como os personagens das novelas Malhação e Avenida Brasil.
Também gaúcha, a estilista Mariana Martinez tem investido em peças feitas a partir do couro de peixe. Trazidas do norte e nordeste do país por uma empresa beneficiadora de Estância Velha, a confecção do material ajuda a evitar que uma enorme quantidade de resíduos seja jogada na beira dos rios. Tão resistente quanto o couro bovino, o material é mais maleável e tem aspecto rústico. Segundo Mariana, ele passa por um tratamento químico para ganhar novas cores. Pelo comprimento do material, as espécies usadas são pirarucu e pescado. E tudo com licenciamento do Ibama.
— Quando se começou a usar o couro para a moda, as cooperativa de pescadores passaram a ensiná-los a tirar a pele de forma a garantir o melhor aproveitamento possível — explica a estilista, que desenvolve roupas como saias, calças e vestidos.
Outra iniciativa, esta situada no Paraná, prova como é possível produzir peças descoladas com o uso racional de recursos naturais. Responsável pela criação de um tecido composto de 50% seda, 25% pet e 25% algodão, a marca O Casulo Feliz trabalha com a chamada seda sustentável, produzida a partir de casulos rejeitados pelos cultivadores do bicho-da-seda na região.
— Como o pet esquenta muito no corpo, por ser um poliéster, agregamos o algodão para neutralizar a temperatura e dar mais conforto ao consumidor — explica a designer e diretora da loja, Glicínia Seterenaski.
Os casulos rejeitados são levados para a fabricação de seda por meio artesanal. São cerca de 70 funcionários que operam, manualmente, máquinas de tecelagem, águas de poço artesanal e captada da chuva, tinturas de folhas, cascas, raízes e sementes, como a de urucum. O jeans de seda, que tem como característica tons de prata acentuado, chegou a receber o Prêmio Ecochic Day, que reconhece e incentiva nomes e empresas da moda sustentável do Brasil.
A grife Mariana Martinez investiu em saia feita a partir de couro de peixe. Foto: Pedro Fonseca / Divulgação
Sustentabilidade em Paraty
Festejar a cultura de raízes enriquecida pelo olhar moderno e apurado do design e da moda. Esse é o objetivo da Paraty EcoFashion, evento voltada para moda sustentável que tem sua segunda edição entre os dias 14 e 16 de setembro em Paraty, no Rio.
Criado inicialmente para promover a união entre as comunidades, artistas plásticos, instituições renomadas e nomes fortes da costura mineira, o evento abre este ano um novo nicho, voltado para a decoração. Além da mostra de roupas, acessórios e objetos de arte, durante o Paraty Eco Fashion também será realizada uma série de palestras, workshops e oficinas ligadas à sustentabilidade na Moda e no Design. Além disso, o evento contará ainda com a apresentação de trabalhos realizados por estudantes de faculdades de Moda, que se inscreveram e foram selecionados para participar.
Minidicionário fashion
Algodão orgânico
É cultivado sem o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e reguladores do crescimento. Para ser 100% orgânico, no processo de tingimento devem ser usados pigmentos naturais.
Corantes naturais
São pigmentos extraídos e manejados de forma ecológica, sem poluir o meio ambiente, de espécies nativas locais. No Brasil, são utilizadas plantas como o jenipapo, o açafrão-da-terra, a anileira, o açaí, o angico e o murici para extrair boa parte dos corantes vegetais.
Customizar
Verbo originário da palavra inglesa customer, que significa cliente. Refere-se à adaptações ou modificação de peças do vestuário segundo o gosto do cliente. A customização também pode ser feita pela própria pessoa, por meio de bordados, aplicações, recortes ou enfeites.
Eco-friendly
Traduzido do inglês, significa amigo da natureza. É um termo utilizado para bens e serviços que infligem danos mínimos ou nenhum ao meio ambiente.
Patchwork
Trabalho artesanal resultante da união de pedaços de tecidos que podem ter diferentes formas, cores e estampas. É usado na confecção de colchas e roupas e virou moda a partir do final dos anos 60 e início dos anos 70. Ainda no final dos anos 60, as indústrias produziam o efeito artesanal do patchwork, criando inúmeras estampas que assim podiam ser adquiridas por metro.
Fonte: Instituto Ecotece
Nossa dica sustentável
Se você não encontra roupas com matérias primas ecológicas ou acha caro aderir a essa moda, uma opção para vestir consciente é promover e frequentar bazares e eventos de troca-troca. Esses eventos costumam ser organizados por quem acumula muitas peças e têm o interesse em trocar seus pertences.
Também vale vender aquelas peças que estão em bom estado, mas já não caem na sua graça. O que pode ser ultrapassado para você talvez seja objeto de desejo de outra pessoa. Outra dica é reduzir o consumo e ser criativo no visual: pensar duas vezes antes de comprar, preferir peças que possam ser vestidas várias vezes e criar novos looks com a mesma peça.
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