domingo, 7 de dezembro de 2014

Brechós se multiplicam em tempos de inflação e de empreendedorismo

Não à toa, esse mercado cresceu 210% em cinco anos, segundo o Sebrae-RJ

Rio - Em tempo de inflação alta, os brechós são alternativas para gastar até 75% menos. Não à toa, esse mercado cresceu 210% em cinco anos, segundo o Sebrae-RJ. A alta se deve em especial pela mudança de comportamento do consumidor, que passou a valorizar as roupas e acessórios usados. E para garimpar peças entre as lojas físicas e da internet, há mais de 11 mil estabelecimentos pelo país. 
Os pequenos negócios que oferecem roupas usadas passaram de 3.691 para 11.469, entre 2007 a 2012. Agora, são 95% do total das empresas do segmento especializado, que engloba além de vestuário e acessórios, móveis, utensílios domésticos e eletrodomésticos. 
“As pessoas adquiriam bastante acessórios usados, e agora compram as roupas. Isso mostra que o consumidor vem perdendo o preconceito com o usado”, explica Fabiana Pereira Leite, coordenadora de moda do Sebrae-RJ. 

Com a irmã e sócia Carla no colo, a empresária Mariana Lanzillotta usa a internet e as feiras de brechós pela cidade para vender as roupas e acessórios que não usa mais
Foto:  Alexandre Vieira / Agência O Dia

Para a especialista, os brechós também ganharam destaque devido à mudança cultural do consumidor. “O crescimento desse negócio pode ser explicado pelo surgimento da moda sustentável, baseada no reaproveitamento de peças e incentivo ao consumo consciente”, afirma. 
É o caso de Mariana Lanzillota, 29 anos, que montou o ateliê Kiuta. “Como eu tinha muitas roupas que não usava comecei a vendê-las”, lembra a dona do brechó, cujo nome vem de um apelido dado por um amigo. “Não sei de onde ele tirou, mas gostei”, afirma. 
Muitos produtos usados, que estão em bom estado de conservação, são oferecidos por Fernanda Arêas, 28 anos, dona do Coisas de Fernanda. “Um tênis da Arezzo que comprei por R$ 250 e usei poucas vezes foi vendido por R$ 80. Uma calça da marca Colcci, de R$ 200, foi vendida por R$ 50. Há produtos que chegam a ser 75% mais baratos”, diz.

INTERNET PARA FATURAR 
Formada em Design Gráfico, Carla Mendes, 34 anos, aproveitou a internet para ganhar dinheiro com as roupas de grife que possuía. Ela começou na antiga rede social Orkut, quando viu nos fóruns de moda pessoas procurando determinadas peças que ela mantinha em casa. 
“Eu fiz a oferta e compraram. Fácil assim”, conta Carla, que hoje oferece seus produtos no Facebook, Instagram e no próprio site do seu brechó ModaBazar. 
Mayra Sallie, 22 anos, se uniu as amigas Luana de Paula e Isabela Maria para criar as roupas customizadas no site a Mig Brechó. “Compramos as roupas de outras décadas, lavamos, tingimos e fazemos uma silhueta atual”, explica Mayra. 
Além do consumidor valorizar roupas e acessórios usados, a atual situação econômica do país influenciou no crescimento dos brechós. A inflação dos últimos 12 meses até setembro chegou a 6,75%, acima do teto da meta do governo, de 6,50%. 
Para o economista Eduardo Bassin, da Bassin Consultoria, o aumento da renda do trabalhador faz o consumidor trocar itens com mais frequência. Contudo, ele lembra que o cidadão está dando mais valor ao dinheiro que tem. 
“O brechó é uma boa opção para comprar por ser barato. E com o aumento da inflação, as pessoas também estão consumindo mais, apesar de muitas lojas de usados terem preços de grifes”, esclarece Bassin. 
Segundo o economista, a grande procura fez surgir novos empreendedores. A visão é compartilhada pela coordenadora de moda do Sebrae-RJ, acrescentando que a maioria abre por uma vontade antiga de possuir um negócio voltado ao setor de moda e design. 
“O investimento para ter um brechó é quase zero e o estoque inicial pode ser por consignação”, explica Fabiana. “Mas é preciso saber investir no visual da loja para ficar atrativo ao consumidor. Para o comércio eletrônico, por exemplo, é necessário aprender a formar preços, já que há outros custos como o frete de peças”, ensina.

FEIRA REÚNE ANTIGAS E NOVAS GRIFES

Hype Free Market terá 160 expositores e espera público acima de quatro mil

Novos designers e brechós estarão reunidos no próximo dia 2 de novembro, de 11h às 20h, na segunda edição do Hype Free Market, no Shopping Cittá America, na Barra. Com entrada franca, o evento é inspirado nas consagradas feiras de rua ao redor do mundo. A primeira edição reuniu quatro mil pessoas. 
Entre os 160 expositores estão Maria Cris, de moda feminina, e a Folk, de moda masculina, a Viva!, com camisetas unisex, e a Litori e a BKN Bikinis, de moda praia. Também estarão presentes como produtos de decoração a Porcelanas Lidia Quaresma, Andrea Pires Arte Luminárias e Almofadas Dia a Dia. Entre os estreantes no Hype Free Market estão Carolina Valadares e Tô Frida, de bijuterias, Eu Zé, de camisetas, e a Bossa Rio Presentes, de decoração, entre outras. Também haverá espaço gatronômico com bares e restaurantes. 
“Queremos dar a oportunidade para qualquer pessoa promover o seu brechó particular e, quem sabe, tomar gosto pelo comércio tornando-se um empreendedor”, afirma Robert Guimarães, um dos criadores da feira. 
“Vivemos um momento em que não existe mais o certo ou errado da moda. Hoje, cada pessoa cria seu estilo misturando peças novas e usadas”, acrescenta Fernando Molinari, curador do evento.

Cascas de laranja viram tecido vitaminado na Itália

Jovens desenvolvem tecnologia para transformar cascas, bagaço e sementes em fibras têxteis com substâncias que, segundo elas, nutrem a pele.
Adriana Santanocito e Enrica Arena criaram uma tecnologia, em parceria com o Instituto Politécnico de Milão, para transformar laranjas em tecido  (Foto: Divulgação)
Adriana Santanocito e Enrica Arena criaram uma tecnologia, em parceria com o Instituto Politécnico de Milão, para transformar laranjas em tecido (Foto: Divulgação)

Duas jovens italianas criaram, utilizando restos de laranja, um tecido hipertecnológico e sustentável, que libera nutrientes que podem ser absorvidos pela pele.
Graças à nanotecnologia - que permite a criação de novos materiais a partir da manipulação de átomos e moléculas -, óleos essenciais e a vitamina C derivados da fruta são fixados ao tecido em microcápsulas e transmitidos ao corpo gradualmente.
"O resultado é um tecido macio e brilhante, semelhante à seda. Além disso, as substâncias inseridas nas fibras têxteis nutrem a pele sem deixar resíduos ou perfume. É como usar um creme hidratante pela manhã", disse à BBC Brasil Enrica Arena, uma das criadoras do produto.
Nascidas na Sicília, ilha italiana conhecida também pela produção de laranjas e limões, as jovens conheceram-se em Milão, onde estudavam e onde ainda dividem o apartamento. Adriana Santanocito, 36 anos, é designer com especialização em materiais inovadores, enquanto Enrica, de 28 anos, é formada em Comunicação e Relações Internacionais.
"O projeto Orange Fiber nasceu em Milão, mas tem o coração na Sicília. Um dia, quando estávamos em casa, a Adriana me perguntou por que não produzir um tecido reciclando os restos de laranja. A partir daí, decidimos tentar juntas", conta Enrica.
A tecnologia para a transformação de cascas, bagaço e sementes de laranjas e limões em fibras têxteis foi desenvolvida em parceria com o instituto Politécnico de Milão, com a qual obtiveram a patente internacional. A segunda fase do processo, que garante a fixação ao tecido de microcápsulas com substâncias derivadas das frutas, é realizada por uma indústria cosmética.
A ideia de um tecido vitaminado feito com restos de laranja agradou três empresários sicilianos, que compraram cotas da sociedade. Sucessivamente, o projeto passou a receber um financiamento europeu, distribuído pela Província Autônoma de Trento.
Graças ao programa Seed Money, elas receberam não apenas recursos econômicos e consultoria, mas também infraestrutura para a iniciar a confecção de protótipos antes do ingresso do produto no mercado nacional.

Do lixo ao luxo
Tecido, segundo elas, transmite vitaminas à pele  (Foto: Divulgação)
Tecido, segundo elas, transmite vitaminas à pele (Foto: Divulgação)

Além de ter recebido diversos prêmios e ter sido selecionada para participar da Expo Milão 2015, a novidade atraiu também a atenção do mundo da moda.
Segundo as criadoras, os tecidos da Orange Fiber devem integrar a coleção de pelo menos uma grife italiana no próximo ano.
"Recebemos encomendas por parte de algumas marcas de luxo, inclusive de fora da Itália. Estamos nos preparando para conseguirmos oferecer uma quantidade e variedade de tecido suficientes para inserir nossos produtos em coleções de moda. A primeira delas deve ficar pronta em fevereiro de 2015", diz Enrica, mantendo em segredo o nomes das empresas.
A primeira fase do processo de industrialização será realizada na Sicília, em uma fábrica de sucos adaptada para receber as máquinas que extraem celulose dos resíduos cítricos. Nesta etapa, serão reaproveitadas cerca de dez toneladas de restos de laranja, suficientes para produzir quatro mil metros de tecido.
"Nosso objetivo é realizar a fase inicial dentro das próprias usinas para evitar o transporte dos resíduos e sermos ainda mais sustentáveis", afirma Enrica.

Resistência às lavagens
Com a tecnologia atual, a empresa garante a presença dos nutrientes nas fibras têxteis por até dez lavagens. "Queremos aumentar o tempo de resistência das microcápsulas ou até mesmo torná-las recarregáveis, com o uso de amaciantes criados especificamente", afirma.

Uma fábrica de sucos foi adaptada para receber as máquinas que produzem as fibras têxteis  (Foto: Divulgação)
Uma fábrica de sucos foi adaptada para receber as máquinas que produzem as fibras têxteis (Foto: Divulgação)

As empresárias pensam também em diversificar a oferta de cosméticos a serem encapsulados com auxílio da nanotecnologia.
O mercado de cosmetotêxteis, como são conhecidos os tecidos que contém compostos bioativos, tem crescido graças aos avanços da ciência nas áreas de microencapsulação e nanotecnologia em cosméticos.
A maioria, porém, é utilizada em artigos esportivos ou roupas íntimas como cintas modeladoras e faixas contra a celulite. Dados do Instituto Francês de Moda indicam que o setor movimentou cerca de 500 milhões de euros em 2013 e preveem um crescimento de 35% ao ano.
"Estamos em uma fase de semi-industrialização e, portanto, nosso tecido cosmético ainda é um produto de nicho, mas nosso objetivo é torná-lo difuso e acessível a todos", afirma Enrica.