domingo, 15 de dezembro de 2013

Para conseguir viajar a Paris, menina de oito anos cria loja virtual de bandanas

Empreendedora desistiu de guardar moedas no porquinho e já tem o próprio negócio

Para conseguir viajar a Paris, menina de oito anos cria loja virtual de bandanas Lidiane Mallmann/Especial
Maira trocou o porquinho para moedas pela máquina de costuraFoto: Lidiane Mallmann / Especial

Em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, Maira Faria Corrêa Vilella recebeu da mãe uma proposta inusitada para uma menina de oito anos: “se você quer, tem que juntar dinheiro”.

A resposta não diz respeito a um brinquedo ou a uma roupa, mas ao pedido da menina para viajar a Paris, na França. A provocação da mãe, Mariana Faria Corrêa, 34 anos, surtiu efeito. Depois de juntar moedas em um cofrinho por algum tempo, Maira percebeu que o método não seria eficiente. Foi aí que, sem nem saber o significado da palavra, teve a ideia de empreender. Começou a costurar bandanas e faixas para o cabelo e criou uma lojinha virtual para vender os produtos.

— Eu queria vender meus desenhos ou fabricar kit de brinco e colar, mas ia ser difícil, porque ia precisar de fábrica. Como a gente tinha máquina de costura e minha mãe já fazia bandanas para mim, tive a ideia — conta a garota.

A iniciativa ganhou forma e nome: Manduá – uma referência ao animal preferido da família, formada por pais biólogos que mantêm uma ONG para salvar o animal, que corre risco de extinção. Cinco meses depois das primeiras fotos no Facebook, Maira já arrecadou cerca de R$ 1 mil com as vendas. 

— Está sendo muito legal, mas o mais importante é o que a Maira está aprendendo com isso, que é construir uma meta, batalhar por ela e investir no que ela quer – observa Mariana.
Maira usando uma das bandanas - Foto: Lidiane Mallmann / Especial 

Com as mãos pequenas e apressadas, Maira costura faixas e produtos com corte reto. Perfeccionista, se não gostou, arranca a linha e faz de novo. Por isso, a mãe é quem costura as bandanas. Na internet, Maira dita, e Mariana publica textos e informações no blog. Na fanpage, só a mãe pode mexer. 

O sonho de conhecer Paris surgiu após a menina ter assistido a um programa de TV sobre a cidade. A paixão cresceu ouvindo a bisavó contar histórias de viagens à capital da França.

— Quero visitar a Torre Eiffel e patinar no gelo embaixo da torre, conhecer chefs de cozinha, experimentar comidas e também conhecer roupas, porque Paris é a capital da moda — projeta.

A viagem deve sair em 2015, com os pais e o irmão João Gabriel, três anos. 

O endereço do blog da Maira: http://mairamandua.blogspot.com.br/
Fan page do Facebook: Maira Manduá

Em vídeo, veja a história da Manduá:

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estilistas reciclam roupas em reação ao consumo de moda fast fashion

Em reação à moda efêmera e barata de gigantes da moda como H&M e Zara, estilistas de Berlim reciclam roupas usadas, convencidos de que o reaproveitamento pode se aplicar também ao prêt-à-porter.
O chão do ateliê de Daniel Kroh, próximo da estação central de Berlim, está coberto de macacões e coletes laranjas com listras fluorescentes usados pelos trabalhadores da ferrovia alemã.
Descosturados, esses uniformes velhos são matéria-prima desse estilista que tinge e retalha o material para fazer roupas masculinas. Em uma peça de roupa, "procuro o traço autêntico", afirma Kroh resumindo seu trabalho.
O estilista alemão Daniel Kroh mostra a etiqueta de uma de suas criações no ateliê e showroom de sua marca ReClothings, em Berlim, que trabalha exclusivamente com peças feitas a partir de roupas usadas
O estilista alemão Daniel Kroh mostra a etiqueta de uma de suas criações no ateliê e showroom de sua marca ReClothings, em Berlim, que trabalha exclusivamente com peças feitas a partir de roupas usadas.
Cada peça é única. É o oposto de uma gigante da moda como a Zara, integrante do movimento do mercado "fast fashion" (moda rápida em referência à comida fast food), que produz uma roupa rapidamente e a baixo preço.
Daniel Kroh, assim como outros estilistas de Berlim, é especializado na valorização de resíduos têxteis para fabricação de produtos de qualidade superior. Ele recupera uniformes e calças de carpinteiros que seriam queimadas para fazer roupas novas sob medida vendidas para uma clientela de 'dandies'.
Sua abordagem de moda faz parte da luta contra o desperdício e o consumo desenfreado.
John Macdougall/AFP
Daniel Kroh veste uma de suas criações e posa em meio a peças em seu ateliê, em Berlim.
Esses estilistas não inventaram a roda. "Minha mãe e avó (...) faziam saias novas com pedaços de vestidos ou remendavam casacos" para economizar, diz a italiana Carla Cixi, estilistas instalada há cinco anos dem Berlim.
"Mas e hoje? Nos livramos de uma roupa em que falta um botão ou que está com o zíper emperrado", diz Cecilia Palmer. Essa estilista trintona está sempre levando roupas que não usa mais e as troca com outras pessoas. Os participantes dessa "festa" podem também fazer novas roupas graças às máquinas de costura que Cecilia leva.
A ideia subjacente de seu projeto? "Consumir de forma diferente", explica a estilista, denunciando as toneladas de roupas jogadas no lixo a cada ano.
Esses estilistas se revoltam contra as roupas "descartáveis". "É um escândalo o que fazem algumas marcas vendendo roupas que não serão usadas mais do que duas ou três vezes", já que em pouco tempo já estarão fora de moda, diz Carla Cixi, que leva horas trabalhando em criações de crochê.
Comprar na H&M "é como ir a um fast-food e se entupir de hambúrgueres. Nós nos sentimos mal depois", compara Daniel Kroh, para quem "essas roupas não têm alma".
De Atenas até o norte da Noruega, a juventude europeia usa o mesmo jeans "slim" (estreito), produzido em Bangladesh ou Camboja aos milhões de exemplares e vendido a preços imbatíveis. É uma moda que agrada a todos, mas que "termina sendo a mesma coisa" para todos, diz Carla Cixi.
Cada jaqueta ou terno que Daniel Kroh fabrica tem explicações sobre sua origem.
John Macdougall/AFP
Os assistentes Daniel Yuhart (dir.) e Lilika Schulter-Ostermann modificam as roupas usadas no ateliê do estilista Daniel Korh, em Berlim.
Eugenie Schmidt e Mariko Takahashi, que criaram sua própria marca de roupas recicladas, também decidiram "contar a história" dos vestidos e calças confeccionados em seu ateliê no coração da antiga Berlim Oriental.
"Quanto mais uma roupa é usada, mais ela tem uma parte da história da pessoa que usou", explica Eugenie Schmidt, mostrando um vestido rosa tranparente com mangas permanentemente manchadas. "Esses são os traços da pintura", já que ele pertencia a uma pintora.
Mas as roupas recicladas, que necessitam de um longo trabalho, ainda são inacessíveis para a maior parte das pessoas. Uma jaqueta pode facilmente passar dos 400 euros (R$ 1.300).
Os estilistas reconhecem que este ainda é um nicho. Eles denunciam, ao mesmo tempo, os preços praticados pelas cadeias de prêt-à-porter, com camisas vendidas muitas vezes a 5 euros (R$ 16).
A última a embarcar no mundo da roupa descartável foi a irlandesa Primark, que atrai -sem publicidade- milhares de pessoas pelo preço baixo a cada loja aberta na Europa. É exatamente o que acontece em Berlim, onde as mulheres saem com os braços cheios. Os preços baixíssimos alimentam a polêmica sobre as condições de fabricação.
A maior ironia da história: no ateliê de Eugenie Schmidt e Mariko Takahashi, grande parte das roupas recicladas é feita justamente a partir de peças de lojas como a H&M e a Zara.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Estilista ensina a dar cara nova à roupa, recriando peças sem gastar quase nada

A estilita Gabriela Mazepa ensinou técnicas durante curso em Campo Grande.
A estilita Gabriela Mazepa ensinou técnicas durante curso em Campo Grande.

É sustentável e não é brega. A ideia de “reciclar” algumas peças faz parte não só do "politicamente correto", mas também é uma opção para economizar e viver bem vestida. Transformar camisa em vestido, vestido em jaqueta e assim por diante, não é tão complicado como pode parecer.
A estilita Gabriela Mazepa é uma das principais profissionais de customização sustentável no Brasil, e desde 2006 defende o conceito com a marca que leva seu próprio nome. Em Campo Grande, ela ensinou alguns truques e deu conselhos a quem quer mudar o guarda-roupas sem gastar quase nada, com a oficina “Pano pra manga”.
Gabriela aconselha a desenha as ideias, antes de pegar uma peça e recriar modelos e composições. Ela incentiva mesmo os que tem um traço ainda infantil. “Isso é para que a ideia não se perca e com os desenhos você compara com os outros e aí escolhe o melhor”, ensina.
A estilista acredita que a falta de preocupação com o designer é um dos motivos da moda sustentável não ter o mesmo segmento que existe na Europa, por exemplo. “Tem que ter bom gosto e é preciso arriscar, ver as possibilidades de produções”, comenta.
A estudante de moda, Lindinalva Sulina de Souza, de 49 anos, pegou a camisa do marido que foi comprada há dez anos para tentar algo mais moderno. Os detalhes exagerados da estampa fizeram com que a peça saísse do armário apenas uma vez. A roupa ganhou formato novo e virou vestido.
Monique, duas camisas que não usava mais e...
Monique, duas camisas que não usava mais e...
uma delas virou blusa com cinto.
...uma delas virou blusa com cinto.
Monique Klein, já é conhecida na capital pelas ideias sustentáveis, com criações de bolsas a partir de banners que iriam para o lixo. Segundo ela, o trabalho toma todo o tempo e, por isso, não consegue criar outros tipos de produtos, então o jeito foi arriscar no curso da estilista. Duas camisas de mangas longas viraram uma blusa. “O tecido é bom, difícil encontrar hoje em dia, tem que reaproveitar”, explica. 
Mas a estilista adianta que a ideia não é seguir tendência da moda. “Tem que se sentir bem e a combinação tem que ter bom senso, mas nada seguindo a modinha”.
O macacão jeans surrado virou jardineira nas mãos da esteticista Aline Matos, de 21 anos. As alças da roupa foram feitas com tranças de retalhos. O custo das produções foram mínimos, como retalhos, linha e agulha.
E quem não tem máquina de costura em casa, uma solução para dar cara nova às roupas é estilizar, com retalhos de tecidos e acessórios, como arrebites e botões.
Estilista ensina a dar cara nova à roupa, recriando peças sem gastar quase nada