domingo, 22 de setembro de 2013

Entrevista de Carlos Miele para o Chic

Acho que está mais do que na hora de repensarmos esse consumismo no que é de fora e valorizar o produto brasileiro, valorizar nosso país, não só falando de Moda, de tudo!

Gostei muito dessa entrevista do Carlos Miele, para o site Chic da Glória Kalil.

Há dez anos sem desfilar com sua marca principal no Brasil, Carlos Miele apresentou nesta quinta-feira (19.09) seu verão 2014, marcado principalmente pelo branco e estampa de píton, em desfile comemorativo no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. O retorno trouxe tops como Carol Ribeiro, Ana Claudia Michels e Renata Kuerten. Mas é pontual, já que em fevereiro Miele volta a desfilar em Nova York, principal vitrine de seu trabalho desde 2002.

Apesar do momento atual do mercado de moda por aqui pedir por um reforço das marcas nacionais por conta da chegada das grandes grifes estrangeiras, Miele conta que não tem planos de voltar a desfilar por aqui tão cedo. Em conversa com o Chic, o estilista fala mais sobre o tema e também comenta a polêmica Lei Rouanet. “Mesmo com o incentivo à moda vai ser difícil. Sem incentivo, eu diria que vai ficar impossível”, disse.

Por que fazer este desfile agora no Brasil?
Faz dez anos que não estou aqui, que não estou próximo a vocês. Resolvi fazer porque são minhas raízes.

Nesses dez anos sentiu uma mudança no mercado da moda brasileira?
Sim, muito grande. Está bem mais concorrido para os brasileiros com a entrada dos internacionais. Agora você tem que estar nos Jardins, shopping Iguatemi, JK e aqui (Cidade Jardim), e isso dificultou muito para os designers brasileiros, fica tudo muito caro, é o mesmo público. As marcas internacionais realmente estão dividindo esse público de moda, então é o momento de fortalecer o Brasil e deixar forte a moda brasileira. Ou a gente acaba ficando sem ela.

Com tantos anos fora, como você compara o mercado de moda em Nova York e aqui no Brasil?
Nova York é uma vitrine para o mundo, São Paulo é uma vitrine pro Brasil. Temos que tomar cuidado. Os americanos conseguiram muito bem valorizar a moda deles e fazer de Nova York uma capital do mundo. Já o Brasil periga até de perder o que a gente tem de moda por aqui. O consumidor que pode pagar um designer hoje tem tanta opção de moda do mundo inteiro aqui, então vai ser difícil pros brasileiros agora se estabelecerem no Brasil. Diferente dos Estados Unidos, que os americanos comandam. A concorrência é de igual pra igual ou eles são até mais forte que os estrangeiros.

Sempre ouvimos reclamações sobre os impostos brasileiros, a burocracia. Em NY também é difícil?
O estrutural do Brasil, não tenho dúvidas de que torna muito complexo globalizar sua marca, porque é tudo muito caro. Muito caro e não tem. Encargos sociais são caros, o tecido mais qualificado não existe, e se existe é muito caro, então tem que trazer de foral. Realmente, em comparação, para internacionalizar a partir do Brasil é bem complexo.

Desde que foi para Nova York, tem acompanhando o São Paulo Fashion Week?
Não tenho acompanhado. Fui um dos fundadores, mas não tenho mais acompanhado, nunca mais fui, então não consigo nem emitir a minha opinião.

Pensa em algum dia voltar para o line-up?
A gente nunca tem que estar fechado pra nada, né? Não é fácil ser designer no Brasil, não é fácil concorrer com empresas globalizadas. Você faz o que você pode. Se dentro do que eu posso for interessante, for viável, então me interessa. Não está nos meus planos porque não está nos planos da empresa, mas não digo que não pode um dia entrar. Hoje, a médio e longo prazo, não vejo como uma prioridade isso.

E você acompanhou a polêmica em torno dos incentivos da Lei Rouanet para a moda? O que acha?
Acompanhei. Acho que é uma oportunidade de manter nossa moda viva, e a moda ajuda na identidade do Brasil. Obviamente, você pode viver sem moda brasileira? Pode. Sem música, cinema nacional? Pode, você pode viver. Mas cinema, mesmo cobrando ingresso, mesmo com incentivo, já é difícil fazer cinema no Brasil. E mesmo com o incentivo à moda vai ser difícil. Sem incentivo, eu diria que vai ficar impossível, está se tornando impossível.

Pensa em algum dia recorrer à lei?
Ah, se eu tiver com um projeto bom, né, cultural.