quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Moda de luxo consciente: joias a partir de camisas descartadas

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Com detalhe em ouro as peças feitas a partir de tecidos reutilizados se transformam em verdadeiras joias. 
Fotos: Julia Vasic

Acrescentando materiais preciosos como o ouro, a designer Julia Vasic transforma tecidos descartados de indústrias de vestuário em uma série luxuosa de colares e pulseiras.

“Eu quero que meus clientes pensem de forma diferente sobre materiais e a possibilidade de inserir a reutilização em suas vidas" Julia Vasic, designer

Segundo a designer de São Francisco (EUA), a missão da marca é criar e inspirar a mudança em torno de questões sociais e ambientais, tais como poluição, redução de resíduos e extinção de espécies. "Ao salvar materiais destinados a aterros, eu estou economizando energia e dando nova vida em algo desgastado", explicou Vasic ao Ecouterre. "Eu quero que meus clientes pensem de forma diferente sobre materiais e a possibilidade de inserir a reutilização em suas vidas", reforçou.
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Além da formação de Design de Moda na Persons School of Design, ela também é formada em Biologia com especialização em Art Studio pela Northeastern University e um MBA da Escola de Pós-Graduação em Gestão de Manejamento Sustentável, o que lhe deu essa consciência ecológica dentro da moda. “Há tantos camisas descartadas no mundo, que eu sabia que poderia fazer algo belo com elas."
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Vasic trabalhou muitos anos como designer de moda para marcas de luxo como a Michael Kors, Libertine, Victoria Secret e Cynthia Rowley. A filosofia do seu trabalho engloba os adjetivos: bom, já que ela quer criar um impacto positivo sobre as pessoas e ao planeta; verdadeiro, por mostrar transparência e autenticidade no projeto; e bonito, revelando produtos atemporais e a beleza interior de inspirar e conectar os consumidores a valores de sustentabilidade.

Site da Designer: Julia Vasic



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Grandes Marcas Têxteis Começam a exigir algodão produzido de forma sustentável


No Brasil, o número de fazendas produtoras licenciadas pelo selo verde Better Cotton Iniciative dobrou em apenas um ano. A busca por fibras de algodão produzidas com qualidade e sustentabilidade é uma tendência cada vez mais crescente na produção e no mercado mundial. Grandes marcas como Adidas, Nike, Migros, Jackpot e KEA, são algumas do segmento têxtil que já aderiram à Better Cotton Iniciative e usam o algodão em pluma produzido em lavouras que desenvolvem as boas práticas agrícolas, com o respeito pela saúde, segurança e bem estar do trabalhador e a preservação do meio-ambiente. Isso tem feito crescer o número de cotonicultores que estão aderindo aos requisitos da BCI, principalmente na Índia, Paquistão e Brasil, maiores produtores mundiais. Do ano passado para cá, a adesão ao programa subiu de 68 mil para mais de 125 mil produtores nos 3 países, além de África e China.
A BCI é uma associação sem fins lucrativos registrada na Suíça que reúne produtores, indústria têxtil e organizações não governamentais e que tem grandes grupos, como Levi Strauss e H&M entre os seus fundadores. O algodão cultivado segundo seus requisitos é registrado e rastreado, desde a propriedade até a beneficiadora.
O cultivo de algodão tradicional ocupa hoje 34.8 milhões de ha em 80 países. As 25,5 milhões de toneladas produzidas por ano vêm de propriedades com menos de dois hectares e envolvem 350 milhões de pessoas em toda a cadeia. Segundo recentes levantamentos da OTA – Organic Trade Association, o algodão é responsável por 24% de vendas de inseticidas e 11% das vendas globais de pesticidas.
Por isso, os principais objetivos da BCI são o de promover o uso eficiente de água, melhorar as condições de trabalho e ensinar os agricultores a aplicarem nutrientes apenas conforme a necessidade, identificando pragas e combatendo-as de forma menos agressiva, sem o uso intensivo de produtos químicos. Essas medidas, além de reduzir os gastos do produtor – que em muitos países chegam a 60% só com pesticidas, ainda trazem menor desgaste ao meio ambiente e melhoram o bem-estar das comunidades agrícolas.


Programa pode virar Norma
Para Nicolas Petit, Mannager da BCI em Bruxelas, dentro de pouco tempo a produção sustentável do algodão deixará de ser apenas uma iniciativa voluntária ou uma recomendação para se tornar uma norma. Para ele, embora o selo “Better Cotton” ainda não signifique um preço maior pela arroba, os produtores que não aderirem a ele podem perder grandes negócios no futuro. “Hoje, as grandes marcas estão exigindo cada vez mais que seus produtos sejam confeccionados com fribras de algodão sustentável, porque nem eles nem seus consumidores querem ver seus nomes associados à utilização em massa de pesticidas, à mão de obra infantil ou à degradação do meio ambiente e de seus recursos naturais. E alguns bancos passaram a incluir requisitos de sustentabilidade antes de fornecer o acesso ao financiamento para os produtores, como é o caso do Rabobank no Brasil, por exemplo”.



No Brasil
Pelos levantamentos da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), a produção de algodão no Brasil, nesta safra, deve ficar em torno de 1,8 milhão de toneladas. Entre os grandes produtores licenciados pela BCI no Brasil, em parceria com a ABRAPA – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão estão 10 fazendas na Bahia, 13 em Goiás, 16 no MS, 19 em MT e 2 em MG, além de 47 produtores familiares de Catuti e Mato Verde, norte de MG, que processam e comercializam sua safra através da Coopercat. Os números são o dobro do ano anterior. Para a certificadora IGCert, do GenesisGroup, credenciada pela BCI para fazer as verificações, o aumento foi ainda mais expressivo. Em 2011 foram 4 fazendas. Este ano, o IGCert foi a única certificadora a realizar verificações no Brasil e registrou nestes primeiros 8 meses 18 fazendas aprovadas, um crescimento de 450%.


Estudar moda sustentável no Exterior

No livro “Moda & Sustentabilidade: Design para a mudança”  (Kate Fletcher e Lynda Grose, editora Senac) é possível encontrar alguns parágrafos dedicados a abordar o perfil do profissional que quer trabalhar com sustentabilidade na moda. Além de criativo, apaixonado por inovação e empreendedor, é importante também que conheça e tenha uma visão sistêmica de todos os processos envolvidos na cadeia têxtil e de confecções. Apesar das dificuldades que esta postura exige, em função dos aspectos técnicos envolvidos, é a única capaz de transformar verdadeiramente o sistema e permitir trocas, intervenções e aprendizados.
Pensando nisso, comecei uma pesquisa de algumas universidades que oferecem  formação a este respeito. Três cursos fora do Brasil me chamaram a atenção:

  • London College of Fashion
Centre for Sustainable Fashion

  • University of the Arts London
Central Saint-Martins

  • International University of Art for Fashion
Esmod Berlim

Apesar de acreditar que a sustentabilidade deve ser um tema transversal na grade curricular dos cursos de moda, também penso que cursos especiais podem ajudar o estudante a se aprofundar em algum assunto, a direcionar seus negócios e sua marca nesta direção. Além disso, os impactos sociais e ambientais da indústria têxtil e de confecções não podem ser ignorados e, por este motivo, precisam ser melhor conhecidos por quem tem interesse em trabalhar neste segmento.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estilistas apostam na confecção de vestidos de noiva sustentável


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Criação do estilista curitibano Edson Eddel. Vestido feito de materiais reciclado. Foto: Divulgação

O tradicional vestido branco ainda é preferência de muitas mulheres na hora de subir ao altar, mas a novidade está na possibilidade de utilizá-lo de maneira consciente sem abrir mão da tradição. Para unir os novos e tradicionais valores, muitos estilistas já estão criando vestidos eco-friendly, que estimulam o uso de materiais diferentes e ecologicamente corretos.
Com o objetivo de desenhar uma marca que não trai os seus próprios valores, a estilista francesa Valérie Pache se concentrou na fabricação artesanal de peças de roupa “eco-fashion”, com destaque aos vestidos de noiva feitos a partir de tecidos reutilizados de pára-quedas e tecidos mais nobres como seda e cânhamo natural e orgânico.

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Vestido feito de tecidos reutilizados de pára-quedas pela estilista francesa Valérie Pache. Foto:Divulgação


Já o estilista americano Heather Wojner criou a "Coleção Cerimonial", onde reúne looks de diversos estilistas que se inspiraram em vestidos de famosas, que vão desde o clássico ao moderno conto de fadas gótico, passando pela elegância vitoriana romântica, feitos a partir de tecido orgânico.

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Vestido feito por Mara Hoffman a partir de tecido orgânico como a seda. Foto:Divulgação

No Brasil, o mercado de vestidos sustentável ainda é pequeno. Segundo o estilista curitibano Edson Eddel, que tem uma loja de vestidos de noiva, a aceitação ainda é muito difícil no país. De 100 vestidos que ele vende, dois são sustentáveis. “A sustentabilidade só funciona na frente da câmera. Na hora que expormos os vestidos nos desfiles todo mundo acha maravilhoso, diz que vai apoiar. Mas depois, quando procuramos, todos desaparecem”, salientou.

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Foto:Divulgação

O profissional tirou do lixo a matéria-prima para a criação de seus luxuosos vestidos de noiva. Na coleção 2012, ele incorporou a transparência do plástico para mostrar que é possível acrescentar conceitos de sustentabilidade no item mais esperado do casamento. Além disso, ele utiliza materiais como lata e lonas de construção.

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Coleção 2012 de Eddel: Vestido feito a partir de saco reciclado

Engana-se quem pensa que, por ser feito de materiais reciclados, os vestidos são mais baratos. Eddel contou que suas peças custam, em média, de R$15.000 a 18.000. “Quando falo que é sustentável todo mundo quer de graça. O meu sustentável é mais caro sim, porque eles são únicos, e por mais que costureiros e etilistas tentem fazer igual nunca vão conseguir. Além disso, a qualidade que eu jogo em um vestido tradicional eu jogo o dobro no sustentável”, garantiu o estilista.

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Ele explicou ainda que trabalhar com material reciclado é bem mais desgastante e que muita gente acaba desistindo no meio do caminho. “Tem que ter paciência, tem que achar o material certo, e deixá-lo apto para a confecção, o que exige diversas etapas, diferentemente de criar um vestido tradicional, onde se compra o tecido pronto e costura”.

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A ideia de confeccionar vestidos sustentáveis veio da vontade de se destacar com estilo e de mostrar que é possível reutilizar materiais reciclados em peças de luxo. “Quando as pessoas falam de vestido sustentável já pensam em uma peça esquisita, ninguém imagina um vestido que você chega e arrasa. Em meus vestidos chega a ser imperceptível o uso dos materiais.”
Eddel define as compradoras dos vestidos sustentáveis como mulheres antenadas e de personalidade.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Empresa francesa produz tênis ecológicos com matéria-prima brasileira


Sem muito alarde de campanhas publicitárias, a empresa francesa “Veja Fair Trade” aposta em uma produção sustentável e social. A companhia fabrica tênis em parceria com trabalhadores informais do norte e nordeste do Brasil.

 O trabalho é realizado em conjunto com cooperativas brasileiras. | Foto: Divulgação
O trabalho é realizado em conjunto com cooperativas brasileiras. | Foto: Divulgação

A marca emprega seringueiros do Acre e pequenos produtores de algodão do Ceará. Estes profissionais ficam responsáveis por recolher as matérias-primas para o desenvolvimento do calçado, que é feito com camurça vegetal tingida, algodão orgânico e couro vegetal tingido com extratos de acácia.

O produto é vendido aos clientes franceses que nem sempre têm conhecimento do processo de fabricação. A empresa acredita que os consumidores não estão interessados na origem do tênis. Com oito anos no mercado europeu, norte-americano e japonês o produto é bastante comercializado.
A previsão é que os pares sustentáveis cheguem ao Brasil no próximo ano. | Foto: Divulgação

O trabalho é realizado em conjunto com cooperativas brasileiras, mas eles ainda não comercializam seus produtos no Brasil. A companhia foi criada, em 2004, pelos empreendedores franceses François Morilion e Sebastian Kopp.

“Escolhemos o Brasil para concentrar a produção porque as condições de trabalho são menos degradantes do que a China e é mais agradável de visitar”, disse Morilion à Revista Época. “Assim, também ajudamos os seringueiros a manter sua atividade, em vez de trocá-la por pastagens e destruir a floresta.”

A ideia de criar a marca surgiu quando eles largaram o emprego para viajar por países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Os franceses montaram um projeto de consultoria em que avaliavam os projetos de responsabilidade social de grandes empresas.

 O grande diferencial é que eles não levantam a bandeira de defesa ao meio ambiente ao divulgá-los. | Foto: Divulgação
O grande diferencial é que eles não levantam a bandeira de defesa ao meio ambiente ao divulgá-los. | Foto: Divulgação

Isso foi planejado para financiar a viagem, mas serviu para eles perceberem o falso investimento das empresas em causas sociais e ambientais. “Voltamos muito frustrados. Era muito marketing e as empresas não mudam aquilo que é mais importante para diminuir o impacto social e ambiental, a cadeia de produção.”

Foi a partir de então que decidiram montar a própria empresa. Com financiamento de um banco francês, que estimula profissionais com projetos sustentáveis, eles abriram a Veja Fair Trade.

 A marca emprega seringueiros do Acre e pequenos produtores de algodão do Ceará. | Foto: Divulgação
A marca emprega seringueiros do Acre e pequenos produtores de algodão do Ceará. | Foto: Divulgação

Há modelos de tênis que homenageiam o país, com nomes como “Domingo”, “Indígenos” e “Tauá”. Na Europa eles fazem muito sucesso. Inclusive, a marca já foi tema de reportagem em duas grandes revistas de moda, Elle e Vogue. O grande diferencial é que eles não levantam a bandeira de defesa ao meio ambiente ao divulgá-los, ou seja, não usam o apelo ecológico para chamar mais atenção dos consumidores.

A previsão é que os pares sustentáveis cheguem ao Brasil no próximo ano. A marca chegará aqui com o nome Verité (verdade em francês). Com informações da Revista Época e Atitude Sustentável.

FONTE: Ciclo Vivo

Moda sustentável ainda precisa de incentivo público no País


A moda brasileira investe em tecnologias sustentáveis mirando o mercado internacional. Mas o setor ainda precisa de apoio e investimento nacional para se desenvolver dentro do novo conceito. É o caso do Grupo Natural Cotton Color, que mantém parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa). A empresa fabrica roupas e acessórios com algodão ecológico, que já nasce colorido. "O Brasil está no topo do ranking mundial da moda sustentável. Só falta o próprio País enxergar isso", diz a diretora do grupo, Francisca Vieira, que está sediado na Paraíba.

A produção, que cresceu 100% de 2006 a 2009, agora avança apenas 10% ao ano. O preço, além da crise econômica, é um dos principais empecilhos a uma evolução maior do setor. Por ser resultado de novas tecnologias, que colaboram com o meio ambiente e o desenvolvimento social, as peças de algodão sustentável acabam ficando até 20% mais caro do que as outras.

Para enfrentar a questão, a empresa vai atuar em duas frentes: se aproximar do consumidor nacional e trabalhar o mercado externo. "Aqui, queremos conscientizar o consumidor sobre a importância do algodão para a sustentabilidade", explica Francisca. "Lá fora, eles já conhecem as vantagens do produto." Ela destaca países como a Suíça. "Eles olham o produto, os certificados e o preço. Fazem o pedido sem questionar os motivos para que o valor seja um pouco mais alto. Sabem pelo que estão pagando."

Na outra ponta, é incentivar as exportações. Em 2013, a meta é vender para empresas alemãs. Atualmente, o mercado externo responde por 20% do faturamento anual da companhia. Apesar da crise internacional, até o final do ano que vem a expectativa é de chegar a pelo menos 30% no mercado externo. Mas, de acordo com Francisca, para isso é preciso incentivos do governo. "É difícil abrir novos mercados sem apoio do Estado ou do município. O governo federal tem programas que ajudam, mas não existem políticas locais de benefícios", critica.

O Estado da Paraíba é o único a produzir o algodão colorido em nível industrial no País, ressalta Francisca. Ela condena os governos locais pela falta de investimento nos produtos. "A cadeia produtiva toda está localizada na Paraíba e o dinheiro gerado por ela fica todo aqui. Mesmo assim, não recebemos apoio dos governos estadual e municipal. Parece até que somos um incômodo", critica.

O algodão ecológico já nasce colorido, sem a necessidade de tingimento. Isso evita a utilização de substâncias químicas, como metais pesados, que, em caso de acidentes ou vazamentos, podem contaminar rios e mananciais. Como exclui o tingimento da cadeia de produção é possível chegar a uma economia de água de 70%, explica Francisca. Para os consumidores a principal vantagem é a durabilidade da cor. As roupas feitas com algodão tingido quimicamente desbotam com muito mais facilidade do que as de algodão natural.

Além disso, o algodão é orgânico e feito promovendo a agricultura familiar, cumprindo também a função social de movimentar a economia local. São cerca de 40 agricultores e mais 500 artesões. Segundo Francisca, nenhuma peça sai da fábrica sem passar pelas mãos de rendeiras ou artesões.

A cada safra, o grupo firma um novo contrato com os produtores. Caso a produção exceda o que foi estabelecido no acordo, as famílias tem a possibilidade de vender para outras empresas. Ao todo, os agricultores do Estado já chegaram a produzir 600 toneladas de algodão colorido por ano nas cores verde, rubi, safira (nude) e topázio (bege claro). A Embrapa realiza agora pesquisas para a produção do algodão azul.

A Embrapa cede a tecnologia para a produção do algodão colorido, dá assistência e treinamento às cerca de 600 famílias cadastradas. Em troca, recebe 0,04% do faturamento da linha e a disseminação desse novo tipo de pesquisa no mundo.

Jovens empreendedores: conheça a nova marca que une vegetarianismo e design

Fernanda Franco Cannalonga, fundadora da Canna, no seu home office

Quem procura uma opção para não usar produtos de couro e peles de animais, mas sempre acha as coisas sem graça e sem design, precisa conhecer a Canna, marca de bolsas e acessórios em material sintético de Fernanda Franco Cannalonga, uma jovem de 22 anos, vegetariana há oito, que procurava uma boa solução para esse problema. E como acontece com muitos empreendedores, Fernanda solucionou essa questão com as suas próprias mãos. A opção de se tornar vegetariana surgiu de conversas com um amigo. “Eu nunca prestei muita atenção, mas de tanto ele falar foi ficando na minha cabeça. Comecei a pensar e passou a fazer sentido para mim. E tem muita coisa gostosa que podemos fazer para comer sem ter que matar animais”, diz.
A Canna tem oito meses de existência e por enquanto é Fernanda quem faz tudo. Ainda sem escritório, ou melhor, com escritório improvisado na sua casa onde estava também o seu namorado, ex-assessor de imprensa que ajuda com os assuntos de divulgação, a Canna caracteriza-se pelo seu design minimalista e pela vontade de Fernanda de oferecer um conjunto completo de “moda sustentável” – desde os materiais que usa, todos de origem nacional e 100% vegetarianos, ao conteúdo que divulga na página de Facebook da sua marca, e até o trabalho que desenvolve com os artesãos que cortam e produzem as suas peças.
Hoje, Fernanda trabalha meio período no escritório brasileiro da Peclers Paris, agência francesa de tendências, “porque por enquanto não dá para fazer só a Canna”, confessa. Foi no escritório da sua marca, com direito a bolinhos veganos (sem leite nem ovos) feitos pela própria, que Fernanda recebeu o FFW para contar tudo sobre a sua marca.
Uma das paredes do escritório de Fernanda
Como surgiu a Canna?
Comecei a trabalhar com moda muito cedo, desde os 13 anos. Montei outra marca que chamava Violet Shop, mais voltada para o público adolescente, era bem o que eu queria! Eu fazia bolsas, acessórios, tudo em casa, e era eu mesma que fazia sentada na máquina de costura. Tive a marca por uns seis ou sete anos e fazia um super sucesso, vendia bastante. Até hoje as pessoas me mandam email perguntando. Aí durante a faculdade [Fernanda estudou moda na Faculdade Santa Marcelina, ficou pesado com o estágio e tudo e larguei um pouco. Quando resolvi retomar, quis voltar com mais do que eu era. Eu cresci e a marca também.
E por que bolsas 100% vegetarianas?
Eu tinha essa necessidade de encontrar produtos legais que não fossem de couro animal, mas que tivessem um design interessante, até porque sou vegetariana há oito anos. Então resolvi fazer. Que é a história de muitos empreendedores!
E para encontrar os materiais? Foi necessário muita pesquisa?
Sim. Eu não queria material que viesse da China, então o meu material é todo feito no Brasil, no Rio Grande do Sul e na Bahia. São fábricas muito legais porque têm todos os processos de sustentabilidade – reciclam quase 100% da água, reciclam o coagulante que deixa o plástico com esse aspecto e é um material super bom de trabalhar por causa da paleta de cores e porque tem um ótimo toque. Eu testei outros materiais como couro vegetal, mas ele não é igual, não funciona tão bem para trabalhar para a indústria de moda.
O que exatamente é o material que você usa?
É um laminado sintético todo elaborado por processos ecológicos.
Como funciona o processo de criação e produção?
Eu desenho e tenho uma pessoa que faz a modelagem e a produção. Por enquanto a criação é muito orgânica, é muito o que eu quero ou o que eu sinto e tento agregar funcionalidade. É um design minimalista, que é o que eu gosto. Agora que estou quase lançando a segunda coleção estou pensando mais no design e como melhorá-lo para se tornar mais resistente e  ter uma maior durabilidade.
Algumas peças e modelos da Canna
Quantas peças são feitas por coleção?
Nesta coleção eu fiz umas 150. E já tenho poucas. Eu sei que demora pra vender, é normal, porque principalmente quando vende pela internet, as pessoas não sabem o que é este material que eu trabalho nem se ele é bom.
Como vocês divulgam a marca?
Por enquanto, tenho site, tenho as páginas de mídias sociais e estou fazendo um trabalho no Facebook da marca que é criação de conteúdo. Como eu pesquiso muito marcas que têm os mesmos princípios que a minha, acabo achando muita coisa, de maquiagem, produtos para o corpo, que eu acho muito legal e as pessoas não conhecem, não sabem. E mandamos press kits para vários veículos.
Vocês participam de eventos de divulgação, ou relacionados com o vegetarianismo?
Participei de um evento chamado ModaCamp no IED e foi bacana porque ia ter palestras e uma loja com várias marcas novas como eu e todo mundo elogiou bastante, falando que era de luxo. Fiquei bem feliz! Eu fico procurando feiras e lugares onde eu possa me encaixar. Tenho alguns produtos para venda na Choix e é legal porque a loja está incentivando bastante as marcas pequenas ao longo dos anos, e através deles eu consigo maior divulgação.
Qual foi o seu investimento na Canna? Utilizou dinheiro que sobrou da Violet Shop?
Como demorou muito entre um projeto e outro, eu não fiz relação dos dois dinheiros. (risos) O investimento da Canna foi muito com o que tinha no bolso, na conta, o que ganhava por mês, aí pagava o material, depois o modelista… e as coisas iam. Não tinha dinheiro sobrando para investir em marketing, por exemplo. Depois eu descobri que isso tem um nome, que é bootstrapping, de fazer as coisas assim mesmo e de reduzir custos. O meu escritório é em casa, não posso pagar escritório ainda e fui eu que fiz o logo. As embalagens sou eu que faço na máquina, sou eu que embalo, coloco no correio, enfim, sou eu que faço tudo, menos modelagem e produção.
Depois calculei quanto gastei para fazer a primeira coleção e acho que foram uns R$ 15 mil. Mas claro, fui colocando de R$ 200 em R$ 200. E aí quando fiz a conta final, quase caí da cadeira. (risos)
A máquina de costura de Fernanda, onde ela faz as embalagens da Canna 
A produção é toda em São Paulo?
Sim, faço com artesãos – o material chega em rolo e daí mando para a modelagem e produção. Eu procuro sempre fazer o conjunto, não adianta trabalhar com um material legal e explorar a mão de obra.
Quanto eles cobram?
De R$ 40 a R$ 100. É caro. O meu preço final está competindo com marcas que não são super caras, mas também não são super baratas. Eu poderia cobrar R$ 600, mas eu quero mostrar às pessoas que não precisa pagar tudo isso. Não quero ser uma Stella McCartney, que não dá para pagar! (risos) O rolo custa R$ 40 o metro. Que é quase quatro vezes mais do que o material vindo da China.
E a marca já pagou o investimento?
Ainda não. Tenho a Canna há oito meses, é muito pouco. Tem marca que demora uns cinco anos para pagar o primeiro investimento. Eu acho que eu estou bem para aquilo que eu ouço falar!
O assunto da sustentabilidade tem sido muito falado ultimamente…
Sim, e falta no mercado. No Brasil, que eu saiba, sou a única que faz um trabalho sustentável, 100% vegetariano e com design. E com bons preços. E no mundo tem poucos produtos assim. Tem umas coisas nos Estados Unidos, mas muito pouco.
Embalagem costurada por Fernanda e um rolo de material bruto 
Você se envolve com movimentos?
Agora estamos fazendo uma parceria com o instituto Move, que tem uma campanha enorme contra peles. Eu prefiro dar opção do que falar que é um horror usar peles e couro. Por isso também é que eu gosto de mostrar as coisas no Facebook, para as pessoas verem que dá para fazer as coisas com pouco e sem abrir mão de ser bonito ou estar na moda e ter qualidade.
Também tem o Vista-se, que é o maior portal brasileiro de vegetarianismo, é só uma pessoa que faz, que é o Fábio Chaves, que é muito empenhado em divulgar as coisas, produtos, receitas e eventos. Tudo. E ele criou um clube vegetariano de benefícios. Como um “Groupon”, mas vegetariano. As marcas se associam e oferecem um benefício. A Canna, por exemplo, oferece um chaveiro a cada compra feita, e eu já fechei muitos negócios através deles.
Fernanda planejando a nova coleção
Aonde quer chegar com a sua marca?
Eu gosto muito de fazer as coisas eu mesma. Lógico que agora sou só eu porque não tenho dinheiro para mais pessoas, mas gosto de me envolver em todos os processos. Não quero que a marca cresça tanto ao ponto de eu não fazer mais nada disso. Não quero perder o controle. Cuido pessoalmente de cada cliente, se as pessoas têm alguma dúvida, por exemplo. Acho importante. Era um cuidado que eu já tinha com a outra marca e que quis manter.