segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Moda sustentável ainda precisa de incentivo público no País


A moda brasileira investe em tecnologias sustentáveis mirando o mercado internacional. Mas o setor ainda precisa de apoio e investimento nacional para se desenvolver dentro do novo conceito. É o caso do Grupo Natural Cotton Color, que mantém parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa). A empresa fabrica roupas e acessórios com algodão ecológico, que já nasce colorido. "O Brasil está no topo do ranking mundial da moda sustentável. Só falta o próprio País enxergar isso", diz a diretora do grupo, Francisca Vieira, que está sediado na Paraíba.

A produção, que cresceu 100% de 2006 a 2009, agora avança apenas 10% ao ano. O preço, além da crise econômica, é um dos principais empecilhos a uma evolução maior do setor. Por ser resultado de novas tecnologias, que colaboram com o meio ambiente e o desenvolvimento social, as peças de algodão sustentável acabam ficando até 20% mais caro do que as outras.

Para enfrentar a questão, a empresa vai atuar em duas frentes: se aproximar do consumidor nacional e trabalhar o mercado externo. "Aqui, queremos conscientizar o consumidor sobre a importância do algodão para a sustentabilidade", explica Francisca. "Lá fora, eles já conhecem as vantagens do produto." Ela destaca países como a Suíça. "Eles olham o produto, os certificados e o preço. Fazem o pedido sem questionar os motivos para que o valor seja um pouco mais alto. Sabem pelo que estão pagando."

Na outra ponta, é incentivar as exportações. Em 2013, a meta é vender para empresas alemãs. Atualmente, o mercado externo responde por 20% do faturamento anual da companhia. Apesar da crise internacional, até o final do ano que vem a expectativa é de chegar a pelo menos 30% no mercado externo. Mas, de acordo com Francisca, para isso é preciso incentivos do governo. "É difícil abrir novos mercados sem apoio do Estado ou do município. O governo federal tem programas que ajudam, mas não existem políticas locais de benefícios", critica.

O Estado da Paraíba é o único a produzir o algodão colorido em nível industrial no País, ressalta Francisca. Ela condena os governos locais pela falta de investimento nos produtos. "A cadeia produtiva toda está localizada na Paraíba e o dinheiro gerado por ela fica todo aqui. Mesmo assim, não recebemos apoio dos governos estadual e municipal. Parece até que somos um incômodo", critica.

O algodão ecológico já nasce colorido, sem a necessidade de tingimento. Isso evita a utilização de substâncias químicas, como metais pesados, que, em caso de acidentes ou vazamentos, podem contaminar rios e mananciais. Como exclui o tingimento da cadeia de produção é possível chegar a uma economia de água de 70%, explica Francisca. Para os consumidores a principal vantagem é a durabilidade da cor. As roupas feitas com algodão tingido quimicamente desbotam com muito mais facilidade do que as de algodão natural.

Além disso, o algodão é orgânico e feito promovendo a agricultura familiar, cumprindo também a função social de movimentar a economia local. São cerca de 40 agricultores e mais 500 artesões. Segundo Francisca, nenhuma peça sai da fábrica sem passar pelas mãos de rendeiras ou artesões.

A cada safra, o grupo firma um novo contrato com os produtores. Caso a produção exceda o que foi estabelecido no acordo, as famílias tem a possibilidade de vender para outras empresas. Ao todo, os agricultores do Estado já chegaram a produzir 600 toneladas de algodão colorido por ano nas cores verde, rubi, safira (nude) e topázio (bege claro). A Embrapa realiza agora pesquisas para a produção do algodão azul.

A Embrapa cede a tecnologia para a produção do algodão colorido, dá assistência e treinamento às cerca de 600 famílias cadastradas. Em troca, recebe 0,04% do faturamento da linha e a disseminação desse novo tipo de pesquisa no mundo.

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