terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Reduzir, reutilizar e reciclar estão se tornando o novo grito da moda

A moda sustentável se baseia na criação de produtos projetados para durar que sejam feitos de matérias primas ambientalmente amigáveis como fibras orgânicas sem produtos químicos e fibras feitas de materiais pós-industrializados como plástico, resíduos têxteis e resíduos orgânicos. A sustentabilidade, por definição, deve satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras.

O grande desafio da sustentabilidade é a cooperação entre os fornecedores, marcas de moda, organizações de normas ambientais e consumidores. Para a indústria da moda, o verde é o novo preto e investir em práticas sustentáveis está se tornando a norma devidos aos problemas socioambientais causados pela obsolescência programada que fez com que toneladas de produtos pós-industrializados fossem parar nos aterros sanitários e até nos oceanos.

Por isso novas tecnologias sustentáveis estão sendo criadas para reciclar o material descartado em novos tecidos. É a economia circular do “berço ao berço” sendo aplicada por diversas empresas de moda para criar novos produtos reciclados de forma inteligente e sustentável. Os 3 Rs da sustentabilidade: reduzir, reutilizar e reciclar, estão se tornando o novo grito da moda.

Reduzir, reutilizar e reciclar estão se tornando o novo grito da moda stylo urbano

Veja a seguir algumas empresas que estão fazendo trabalhando para reciclar materiais como plásticos e tecidos velhos para transformá-los em novos produtos.

Timberland fez uma parceria com a thread, uma fabricante americana de tecidos sustentáveis, para criar uma coleção de calçados e bolsas criados a partir de garrafas de plástico reciclado pós-consumo. A colaboração busca criar oportunidades econômicas nos países em desenvolvimento como o Haiti e Honduras, onde as garrafas são primeiramente recolhidas para depois serem fiadas nos Estados Unidos.

A coleção sustentável da Timberland utiliza resíduos pós-consumo como borra de café e garrafas de plástico recicladas para criar os tecidos de seus casacos. A empresa desenvolveu também o ReCanvas, um material que parece, sente e age como uma lona de algodão tradicional, mas é feita 100% de garrafas de plástico reciclado pós-consumo (PET).


A recolha de garrafas plásticas além de deixarem os bairros mais limpos acabam criando emprego nesses países. Além do programa de reciclagem, a Timberland completou seu compromisso de cinco anos para plantar 5 milhões de árvores no Haiti. O objetivo era criar uma “cooperativa agro-florestal auto-sustentável” para milhares de pequenos agricultores que pudesse aumentar a produtividade de suas terras e aumentar os seus rendimentos.



O campeão mundial de surfe, Kelly Slater, fundou sua marca de roupa Outerknown focada 100% em tecidos reciclados e sustentáveis. Kelly queria criar uma maneira melhor de fazer roupas usando menos recursos na fabricação e utilizando materiais descartados que estavam poluindo os oceanos como plásticos e redes de pescas de nylon.

Sua marca Outerknown utiliza os tecidos Econyl , um tecido de nylon criado a partir de redes de pesca e outros resíduos recuperados dos oceanos. O material é produzido pela fabricante de fibras sintéticas italiana Aquafil que afirma que o Econyl pode ser reciclado infinitas vezes sem qualquer perda de qualidade.

A Aquafil faz parceria com uma ONG que vasculha o fundo do oceano retirando redes de pesca velhas que poderiam prender e matar animais marinhos. A empresa também compra redes velhas de pescadores para reciclá-las em novos fios.

Em abril de 2016, foi anunciado que o tecido de nylon reciclado também será utilizado na coleção de jeans masculinos da Levi.

A campanha “upcycling the oceans” da marca de moda espanhola Ecoalf, visa retirar toneladas de plástico do oceano para transforma em tecidos. O impacto ecológico sobre os mares está crescendo ano após ano. Atualmente 6,4 milhões de toneladas de lixo nos oceanos e os plásticos constituem cerca de 90% disso.

Diante dessa realidade, a Ecoalf que é conhecida por fazer suas coleções com materiais totalmente reciclados como borras de café, pneus velhos, garrafas PET, redes de pesca e fibras de algodão e lã reciclados, lançou o projeto colaborativo “upcycling the oceans”, cujo objetivo principal é limpar os oceanos através da participação ativa dos pescadores.

Este projeto que é pioneiro a nível mundial, começou suas andanças nos mares do Mediterrâneo e os resíduos de plástico resgatados resultaram na coleção de primavera / verão 2017, apresentada em Florença na Pitti Uomo.

Além disso, a Ecoalf fez parceria com a Ecoembes, uma organização da Espanha que cuida do meio ambiente e promove a sustentabilidade através da reciclagem de embalagens. A Ecoalf e uma marca de vanguarda que utiliza tecidos oriundos de materiais descartados dando-lhes uma nova vida através de roupas bonitas, modernas e atemporais.

Seguindo os passos da Ecoalf, a linha de roupas G-Star Raw for the Oceans inclui uma gama de produtos feito de denim que utilizam cerca de nove toneladas de plástico retirado do oceano. Utilizar toneladas de plástico retirados do oceano que são transformados em fios de poliéster reciclado para fabricar denim, é uma maneira de vender um tecido sustentável aos consumidores que podem assim assumir alguma responsabilidade ambiental sem sacrificar o estilo.

Uma das questões mais importantes relacionadas com a economia circular é ter certeza que usaremos os recursos existentes de forma eficiente, reciclando todos os resíduos que antes iam parar no lixo. Pensando nisso foi criada em 2013 a Pure Waste, uma marca de roupas ecológicas da Finlândia que produz tecidos  e roupas 100% reciclados de resíduos de algodão e poliéster.

A Pure Waste funciona da seguinte forma: a empresa compra todas as sobras de tecidos dos fabricantes de tecidos que normalmente iam parar no lixo, classifica esses resíduos por cor, depois tritura o tecido de algodão para transformá-lo em fios e, finalmente, transforma os fios em tecidos utilizáveis.

O produto final é um tecido de alta qualidade com 85% de algodão reciclado e 15% de poliéster reciclado, que teria sido eliminado como resíduos. Como a empresa classifica os resíduos por cor, não é preciso nenhum novo tingimento adicional durante o processo. Usar somente algodão reciclado economiza 11.000 litros de água por quilograma, comparado ao uso de algodão novo, segundo o site da empresa.
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No entanto, de acordo com um dos fundadores da Pure Waste, Hannes Bengs, a tarefa de encontrar tecidos 100% reciclados foi bem difícil:

“Naquela época, começamos a pensar sobre o uso de tecidos totalmente reciclados e por isso, começamos a olhar para tecidos que fossem 100% reciclados. Para nossa surpresa, nós não conseguimos encontrar fornecedores de tecidos reciclados. Então, ficamos animados e percebemos que poderíamos nós mesmos começarmos a fornecer tecidos reciclados a outras empresas.”

Toda fabricação dos tecidos é feita na Índia. O modelo de negócio da Pure Waste é relativamente simples. A empresa compra sobras de tecidos de fabricantes, os transforma em tecidos utilizáveis ou roupas e os vende para outras empresas ou para consumidores individuais. O que é particularmente interessante sobre o modelo de negócios da empresa são os recursos não utilizados que a empresa está tentando utilizar.

Cerca de 10 a 15% dos tecidos utilizados na fabricação de roupas são geralmente desperdiçados, o que gera milhares de toneladas de tecidos que vão ser jogados fora. Se essas sobras de tecido puderem ser reciclados de forma eficiente para criar novos tecidos de qualidade, se torna um negócio rentável pois matéria prima é que não vai faltar.

O vídeo abaixo mostra como é feito o processo até se tornar uma camiseta.


Que tal usar uma blusa de tricô feita de jeans reciclado? Diga Olá para “Bille Jean”, uma nova coleção de fios feito de jeans upcycled da empresa Wool And The Gang, uma marca de vestuário com sede em Londres que oferece tanto os fios para você tricotar e roupas feitas do fio de jeans reciclado.

Os fios são feitos de roupas e retalhos de jeans velhos que são moídos em fibras, que depois são novamente tecidos em fios. Billie Jean não usa produtos químicos nem corantes na sua criação. Os fios também reutilizam os 20.000 litros de água que foram gastos inicialmente para fabricar as roupas jeans que passaram por upcycled. Fantástica não?
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A icônica marca americana de jeans, Levi Strauss & Co., juntou as mãos com uma start-up de tecnologia têxtil chamada Evrnu para produzir o primeiro par de jeans do mundo feito de resíduos de algodão pós-consumo 100% reciclados, usando cinco camisetas de algodão descartados para criar um par de jeans 511 Levi.

Fundada em 2014, a Evrnu tem base no estado de Washington, e procura enfrentar o impacto ambiental da indústria da moda. De acordo com a Evrnu, o seu jeans foi feito usando uma nova tecnologia de reciclagem que pode converter os resíduos de algodão velho em fibras renováveis e usar 98% menos água do que o algodão virgem. Essa tecnologia irá ajudar a Levi a reduzir o seu impacto ambiental global.

Esta nova tecnologia de Evrnu para criar um par de jeans com resíduos de algodão é um grande avanço em sustentabilidade e inovação na fabricação de vestuário para ajudar a reduzir significativamente o impacto global sobre o planeta.

Stacy Flynn, diretora executiva da Evrnu acrescentou, “Levi Strauss and Co. foi nosso primeiro parceiro que apostou na nossa tecnologia e capacidade por ser uma empresa americana icônica com um produto que é reconhecido em todo o mundo. A nossa aspiração é construir um par de jeans Levi que seja tão bonito e forte como o original e nós estamos fazendo um grande progresso em direção a esse objetivo para que possa ser produzido em larga escala.”

Como pode ver, as novas tecnologias de reciclagem são uma excelente alternativa para diminuir de forma eficiente e sustentável parte do impacto ambiental causado pela indústria da moda. Viva a tecnologia e inovação!
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PET de hoje, roupa de amanhã

Materiais recicláveis, como garrafas plásticas, viram tendência na moda mundial

Movimentos que propõem cada vez mais a exposição de todos os processos de fabricação de uma roupa andam colocando a moda em uma berlinda. Um dos desafios dos tempos atuais é tornar o consumo cada vez mais sustentável por meio de alternativas que visam à diminuição do impacto ambiental.
E uma dessas iniciativas vem por meio da garrafa PET, que atualmente vive um de seus melhores momentos no universo da moda. É que por meio de um processo de reciclagem, o plástico da garrafa é transformado em fibras que, por sua vez, resultam em um tecido forte, porém macio. Embora ainda soe como uma novidade, há marcas no mercado, como a My Basic, responsáveis por tornar realidade a reciclagem do PET como roupa já há algum tempo. Uma camiseta básica vendida no e-commerce da grife, por exemplo, equivale a aproximadamente duas garrafas retiradas do meio ambiente.
Buscando alternativas mais ecológicas e reverberando a preocupação com o futuro, a nova safra de estilistas também vem se empenhando para popularizar este tecido e, de alguma forma, torná-lo mais viável.
Antônio Fernando Santos, coordenador do curso de Design de Moda da Fumec, entende que os alunos recém-formados estão, sim, mais empenhados na questão da sustentabilidade e mais conscientes da importância da reciclagem. “O tecido feito a partir da garrafa PET se parece muito com a viscose, tanto no caimento quanto no toque. Em geral, ele é combinado com algodão ou linho, que conferem um toque ainda mais confortável e diminui ainda mais o custo”, explica.
Mais vantagens
O estilista Célio Dias, nome por trás da marca mineira LED, conheceu o tecido PET há quase um ano e investe na matéria-prima para produzir parte de suas peças a cada coleção lançada. “Uma das vantagens desse tecido é a facilidade para estamparia, porque ele ‘aceita’ mais facilmente técnicas diversas, como a sublimação. O custo, por conta da tecnologia da reciclagem, é um pouco mais alto, mas o fato de trabalhar com tecidos sustentáveis é gratificante e menos danoso ao meio ambiente”, defende.
Além da responsabilidade socioambiental, da facilidade para estamparia e da durabilidade, Célio também aponta mais um benefício no uso dessa matéria-prima: o conforto. “Ele funciona como o poliéster, que é nada mais, nada menos que plástico que é poluente. Mas o tecido que uso é combinado com outras fibras naturais, o que favorece o caimento e não esquenta tanto quanto um sintético”, conta.
Ecologicamente bonito
Bruna Miranda, idealizadora da Review Slow Living – plataforma sustentável que faz um mapeamento de marcas que trabalham com o consumo consciente –, explica que a indústria da moda sustentável ainda carrega o estigma de estar associada a produtos sem estética. Se antes, na moda, termos como “ecológico” e “sustentável” eram sinônimos de peças com nenhum design, estilistas estão provando, cada vez mais, que é possível trabalhar as tendências com criatividade e bom gosto.
“Algum tempo atrás, uma peça ou era sustentável, ou era bonita. Hoje, não é só assim. As marcas estão investindo em design e informação de moda nesse tipo de tecido e transformando-o em peças desejáveis e vendáveis dentro de uma estética mais atemporal e minimalista, acessível a todos os gostos”, aponta.
Quem compartilha dessa opinião é a estilista Ana Sudano, que trabalha há três anos com maneiras socioambientais e tecidos tecnológicos junto à marca Grama. Para ela, a indústria têxtil caminha a passos cada vez mais largos em direção à criação de artigos que unam estilo e alternativas mais limpas.
No entanto, ela ressalta que um dos empecilhos para a popularização da técnica ainda é a falta de conhecimento do produto. “Ainda existem consumidores que, ao saber que a roupa foi feita de um tecido gerado a partir de garrafa plástica reciclada, associam o produto a lixo. Moda é muito impacto visual. Quando a roupa gera desejo, a mensagem por trás vem automaticamente”, acredita.
Alternativa mais durável para calçados
Vegetariana já há alguns anos, a designer mineira Luisa Jordá encontrou nos tecidos desenvolvidos a partir de embalagens PET recicladas a matéria-prima capaz de substituir o couro animal e outros produtos utilizados na indústria calçadista para criar peças para sua marca estúdio NHNH. Segundo ela, o tecido ecológico não só é bem resistente, como durável e fácil de trabalhar.
“Os fabricantes estão começando a aprender que existem outros materiais que podem ser bem-explorados sem que agridam exaustivamente o meio ambiente, como acontece com o couro animal”. Ainda de acordo com ela, há sim, no mercado, uma demanda significativa por produtos afins, vinda de pessoas que procuram por produtos que não sejam fabricados com materiais de origem animal. 
“As pessoas adquirem a peça porque gostam do design, mas a consciência da produção da indústria vem embutida. É algo que as empresas deveriam adotar, já que a ideologia pode atingir os clientes, e é uma onda que só vem crescendo”, relata.
 
Recentemente, a Adidas desenvolveu um tênis de corrida usando lixo plástico recolhido dos oceanos. A iniciativa é fruto de uma parceria com a organização ambiental Parley for the Oceans. Cada par usa 11 garrafas plásticas, transformadas em fios, na fabricação de sua parte superior. Já a sola, o cadarço e a meia embutida são confeccionados com resíduos de garrafas PET recicladas. Outras marcas de calçados, como a Insecta Shoes, também acreditam que utilizar garrafas recicladas para fazer peças é uma maneira correta de eliminar resíduos. Para Bruna Miranda, do Review Slow Living, a produção sustentável tem um valor maior, e as marcas, de maneira geral, estão procurando por isso. “Fazer com que as pessoas fiquem interessadas em usar esse tipo de material e que percebam que é possível alinhá-lo à estética é uma boa maneira de tornar essas iniciativas mais acessíveis de maneira geral, e não apenas a um nicho de pessoas que já são comprometidas com a sustentabilidade”.