segunda-feira, 4 de junho de 2012

Moda artesanal será exposta na Rio+20

Foto: Eduardo Aigner/MDA
A moda sustentável produzida pela agricultura familiar brasileira, confeccionada de modo econômico e sustentável a partir de matéria-prima local com apoio do programa Talentos do Brasil, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com Sebrae, estará em exposição na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável –, entre os dias 16 e 22 de junho. Os empreendimentos, oriundos de doze estados, estão entre os 23 a serem mostrados pelo MDA nos 540 metros quadrados da Praça da Sociobiodiversidade, e darão um colorido especial ao palco das discussões internacionais que reunirão chefes de Estado e sociedade civil de 13 a 22 de junho no Rio de janeiro (RJ).
Ao decidir criar uma associação que produzisse artesanalmente acessórios femininos, no início dos anos 2000, Marlene Barbosa Mendonça não havia sequer imaginado que um dia as bolsas, pulseiras e colares fabricados seriam expostos em um evento de repercussão mundial, como a Rio+20. “A gente fica emocionada, nem imagina uma coisa tão extraordinária como essa”, afirma a produtora, que preside a Cooperativa dos Artesãos Mulher Peixe (Coopeartepeixe), localizada no município de Coxim (MS).
Com um ano e cinco meses de existência, a cooperativa  surgiu dos trabalhos desenvolvidos na Associação Reciclando o Peixe (Arpeixe), que continua em atividade e é mantida por parte dos integrantes da Coopeartepeixe. A reclassificação do empreendimento ocorreu em decorrência do aumento das demandas recebidas e, consequentemente, da necessidade de vender os produtos para mais lojas e empresas. Com esse cenário, a expansão dos negócios encontraria alguns impedimentos jurídicos se os produtores permanecem agrupados em uma associação.
A cooperativa é formada por 25 produtores familiares, dentre eles 20 mulheres. De acordo com a presidente da Coopeartepeixe, os homens não trabalham direto com a produção. “Eles ficam na parte da gestão, da estruturação da cooperativa”, diz Marlene.
Desenvolvimento sustentável
Mesmo distantes das grandes discussões, Marlene e os produtores familiares da cooperativa há anos trabalham alinhados ao tema defendido pela conferência: o desenvolvimento sustentável. As peças comercializadas pelas artesãs são produzidas a partir do couro do peixe in natura, que elas adquirem na região. Todo o tratamento da matéria-prima é feito sem química, com extrato vegetal. Desse modo, as mãos habilidosas transformam em arte o que seria descartado.
Quando lembra da maneira como a cooperativa foi concebida, Marlene se emociona. “Com a escassez dos pescados, comecei a ver o pessoal ribeirinho indo para a zona urbana. Mas nas cidades, geralmente, eles não estavam preparados para os postos de trabalho e aí vinha o choque social. Pensei nesse tanto de couro de peixe e de mulher desempregada, precisando de um emprego”, conta.
Passado algum tempo, a cooperativa já colhe bons frutos. Produz, em média, 1,5 mil peças mensais em um núcleo próprio para a produção. Atualmente,  trabalha para atender à demanda de uma empresa  brasileira que fornecerá os produtos da Coopeartepeixe para a cidade de Dallas, nos Estados Unidos.
Há pouco, eles também exportaram para a França e a Alemanha. As vendas foram viabilizadas pelo programa Talentos do Brasil, uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário que conta com parcerias importantes, como o Sistema Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro Empresas (Sebrae), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit),o Pacto de Cooperação Brasil e Alemanha Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Giz) e Ministério do Turismo. As parcerias também incluem os movimentos sociais e movimentos sindicais que promovem o intercâmbio eficaz entre artistas e mercado.
“É o Talentos do Brasil que dá o suporte necessário para a gente poder fabricar, mostrar e comercializar os produtos fabricados. O programa é minha madrinha. Não teríamos a oportunidade de mostrar nossos produtos, de estar no mercado e na internet se não tivesse um apoio muito forte do MDA no programa”, afirma.
Acessórios femininos
Para a Rio+20, a Coopeartepeixe levará sua coleção de acessórios femininos. O destaque ficará para a bolsa de franja, o carro-chefe dos artesãos e campeã de vendas. Em exposição, os participantes da conferência conhecerão ainda a linha de souvenires da cooperativa, com agendas e blocos de anotação. “Teremos a oportunidade de apresentar nossos produtos para pessoas de fora do país, que levarão a imagem do projeto. Com isso, teremos mais possibilidade de expandir o mercado, de comercializar e de trazer mais mulheres para a cooperativa”, afirma Marlene.
A expectativa é compartilhada pela presidente da Cooperativa das Bordadeiras de Alagoa Nova (Cooban), Ana Glória dos Santos Costa. “Queremos divulgar nosso trabalho, mostrar para as pessoas o tesouro que temos, todo feito a mão, que não se acha em qualquer lugar. Estamos cheias de esperanças com as possibilidades de vendas e de contatos”, explica.
Formada por 25 bordadeiras e cinco costureiras, a Cooban está situada  na cidade de Alagoa Nova (PB) e aproveitará a passagem pela conferência para lançar oficialmente sua última coleção, intitulada “Flores”. Ana Glória explica que as peças são bordadas de acordo com as flores que as cooperadas encontram no agreste. “O que a gente tinha no jardim a gente conseguiu levar para o vestuário”, fala.
Ao todo, a cooperativa levará 25 unidades de cada peça da colação, que é composta por vestidos, blusas, saias e coletes. De acordo com a presidente da Cooban, a participação na conferência só é uma realidade por causa do programa Talentos do Brasil. “A gente tem limite. Não teríamos estrutura para fazer exportação, ter assistência de uma equipe de mercado especializada, comprar estande em feiras de outros estados, sem falar na divulgação na internet. E o projeto faz tudo isso para gente. Por meio do Talentos do Brasil, a gente ganha o mundo, não há fronteiras. É a maior rede de divulgação para a cooperativa”, conta.
Criado em 2005, o programa Talentos do Brasil reúne 18 grupos de  cooperativas singulares de todo o País, que estão organizadas comercialmente na Cooperativa Central Única das Artesãs, a Cooperúnica. Durante a realização da Conferência Rio+20, os produtos de todas as cooperativas serão expostos e comercializados no estande do MDA, com 540 metros quadrados, localizado na Praça da Sociobioversidade.
"Teremos uma mostra bem rica dos produtos dos nossos principais biomas, o que demonstra a capacidade de gerar renda preservando e utilizando com sustentabilidade a mega biodiversidade que o Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso País", avalia o diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor do ministério, Arnoldo de Campos.

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