sexta-feira, 27 de abril de 2012

Empresária diz que há 'picaretas' se aproveitando da sustentabilidade


A sustentabilidade precisa ser vivida com amor. É esta a opinião da proprietária e coordenadora do grupo Natural Cotton Color, Francisca Vieira. Em tempos de Rio+20, o assunto é debatido com mais veemência e grupos que lutam por esta causa ganham maior visibilidade. Mas, na verdade, o ideal seria que o assunto não esfriasse nunca. Em entrevista ao SRZD, a paraibana falou um pouco sobre ações sustentáveis no mercado da moda, pessoas que usam o tema apenas como maeketing, dificuldades financeiras que empresários deste ramo podem encontrar e da falta de apoio dos governos.
Foto: Divulgação

Em seu negócio, Francisca capacita a mão de obra e dá preferência a pessoas de comunidades mais necessitadas da Paraíba. Esta ação favorece rendeiras e artesãos que têm muito a fazer, mas não encontram espaço nas grandes corporações, ou simplesmente não querem, por não ser um trabalho que combine com seu estilo de vida. É uma maneira de ajudar o mercado local e o desenvolvimento regional. 

Outra ação importante adotada pela empresária é a utilização de sementes coloridas de algodão, produzida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o que faz com que o montante de água que seria utilizado no tingimento de tecidos sem cor seja reduzido. Para tingir um tecido, são necessários vários enxágues. "Mas, no nosso caso, só tem uma lavagem com água quente", conta.

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Sobre o relacionamento com fornecedores, ela diz que não há muitas dificuldades de relacionamento "porque eles já são conscientes de quem somos". "Para quem já está inserido neste meio sustentável é mais fácil encontrar fornecedores. O difícil é a moda infantil, mas não pelos fornecedores em si, mas sim porque a região ainda não desenvolveu muito o segmento", completa.

A dificuldade mesmo é que as condições para compra de matéria prima são inferiores às de venda, fazendo com que os empresários precisem recorrer bastante a programas de crédito oferecidos por bancos. "É difícil porque este algodão precisa ser comprado a vista. E no Brasil nada se vende se não for a prazo. Então isso dificulta bastante", ressalta Francisca, que também alerta para a falta de apoio do governo estadual. "Falta conscientização. Eles não dão valor ao que a Paraíba tem, ao que é ecologicamente correto e sustentável. No momento estamos pleiteando 32 mil para contratar uma assessoria. Só conseguimos 16 mil".

Mas, apesar de todo e qualquer ponto negativo, ela se mostra firme, e diz que a sustentabilidade deve ser uma missão pessoal, uma causa: "Para ser realmente sustentável temos que trabalhar no dia a dia, e não fazer apenas uma coleção de roupas sustentáveis. As pessoas contratam rendeiras e artesãos por miséria. Há exploração. É necessário estar dia após dia comprometido com isso e não explorar a humildade dos outros", diz.

"Não é só dizer: 'Eu quero trabalhar com sustentabilidade'. Existe muito picareta se aproveitando disso. O nome é exatamente esse: picareta. Não invente de trabalhar com isso se não existe vontade real e amor pela causa", finaliza.


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