A matéria-prima dos produtos são os resíduos de jeans do polo têxtil pernambucano
Fotos: Mulheres de Argila/Reprodução/Facebook
Fotos: Mulheres de Argila/Reprodução/Facebook
Doze milhões de metros de ourelas de jeans descartados por mês pelo polo têxtil da região do agreste pernambucano, integrado por 18 municípios. Um grupo de artesãs disposto a produzir alguma coisa com o material, que vai parar nos lixões ou é incinerado em fornos e lavanderias. Um estilista, que aposta na sustentabilidade e cria coleção de acessórios e peças de decoração para solucionar a questão socioambiental da região. Isso está ocorrendo, desde 2013, em Alto do Moura, a 7 km do centro de Caruaru, região famosa por ser o maior centro de arte em barro das Américas, fundada pelo Mestre Vitalino.
O estilista Melk Zda, de Recife, é protagonista dessa iniciativa junto com o grupo de 16 artesãs da Associação de Artesãos em Barro e Moradores de Alto do Moura (Abmam), que se autodenominou Mulheres de Argila. Almofadas, tapetes, luminárias, jogos de cama e mesa, entre outras peças, compõem a primeira coleção chamada Sá Valdivina, em homenagem à bonequeira, que também fazia potes de barro e teria 117 anos, se fosse viva.
A matéria-prima dos produtos são os resíduos de jeans do polo têxtil pernambucano. A próxima coleção vai homenagear outra artesã de Alto do Moura: Dona Celestina, que ainda produz brinquedos de barro. Essas ações pertencem ao Projeto de Artesanato do Agreste do Sebrae em Pernambuco.
“A moda tem que solucionar seus resíduos" - Melk Zda, estilista
“Trabalhar com sustentabilidade é um trabalho abençoado. Saber que estamos contribuindo com o meio ambiente e outras mulheres faz a gente se engrandecer como ser humano”, afirma Josy Santos, presidente do grupo Mulheres de Argila.
“É maravilhoso pegar um produto já existente e fazer outro, a partir dele. A coleção teve muito boa aceitação”, comemora Melk Zda. Ele também desenvolveu o tear para tecer as tramas feitas de ourelas de jeans, simples e compostas por isopor.
Segunda fase
O estilista informa que, no momento, as artesãs estão preparando a segunda fase da coleção Sá Valdivina, constituída por bolsas, mochilas e carteiras. As peças são comercializadas no show room da Abmam e em feiras de negócios, das quais as Mulheres de Argila participam com apoio do Sebrae PE.
“A moda tem que solucionar seus resíduos”, defende o estilista. “Para cada metro de tecido para se fazer uma peça jeans, sobram dois metros de ourela, que viram lixo no polo têxtil”, resume ele. Quando recebeu o convite para participar do desafio, Melk Zda confessa que estranhou, pois a tradição de Alto do Moura são as peças em barro. “Mas as artesãs queriam outra matéria-prima para desenvolver novos produtos. Os resíduos de jeans não eram aproveitados e elas também queriam resolver o problema local”, diz ele.
“O que estamos fazendo pode ser modelo para o mundo. Temos de diminuir o desperdício. A Lei de Lavoisier nunca foi tão certa: nada se perde, tudo se transforma”, cita Josy. “O projeto de artesanato mexe com a autoestima de Alto do Moura. A coleção Sá Valdivina conquistou o coração das pessoas desse lugar”, conta Maria Marisete da Silva, gestora do projeto de artesanato do Sebrae em Caruaru.
Fonte: Ecodesenvolvimento.org
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