O antropólogo Ricardo Lima, pesquisador da cultura popular e do folclore, trabalhou durante muito tempo no Museu do Folclore do Rio de Janeiro e, desde 2009, dirige o Ecomuseu Ilha Grande, vinculado ao departamento cultural da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), do qual também é diretor. É idealizador e responsável pelo projeto Ecomuseu Recicla, “do qual tenho muito orgulho e me traz muita alegria”, diz. O objetivo desta ação cultural, ecológica e social é atender à população da Vila Dois Rios, na Ilha Grande, onde se localizava o extinto presídio e hoje é sede do museu. Em pesquisa e entrevistas, constatou-se que a principal queixa dos moradores era “ficar parado, não ter o que fazer”, e, claro, dificuldades financeiras. Ricardo criou o projeto Ecomuseu Recicla, em que foram oferecidas capacitações em artesanato em diferentes técnicas. As escolhidas pelos participantes foram escultura em madeira de descarte e as flores de garrafa pet, tornando a reciclagem meio de criação, produção e geração de renda.
“O projeto começou a partir da observação do lixo que o mar jogava pra fora de manhã e de tarde”, conta Ricardo. “O lixo, aliás, é um dos grandes problemas da Ilha Grande, pois todo ele tem de sair de lá, mas isso só o desloca da ilha para o continente, não soluciona. Hoje, desafio você a encontrar uma garrafa pet jogada na Vila Dois Rios”, relata. E conta que as artesãs fazem belíssimas flores de pet, em versões de ímã de geladeira, cortinas, bijoux, ou simplesmente flores com caules, que ficam muito bem em vasos e arranjos. Um dos artesãos que trabalha com madeira recolhida no mar e madeira morta faz miniaturas dos barcos de verdade e figuras sugeridas pela própria madeira; o outro também produz barquinhos, mas com uma vagem chamada dente-de-macaca, que são bem típicos da região.Há, ainda, bonequinhos de pano vestidos de presidiários, produzidos por uma artesã do Rio de Janeiro, lembrancinhas para os turistas que visitam o museu onde antes havia um presídio.
Para concluir, Ricardo Lima comemora: “Atendemos 40% da população de Vila Dois Rios, que tem 90 pessoas, portanto, são quatro artesãos no projeto: dois homens e duas mulheres”, conclui divertido, sem qualquer sombra de dúvida sobre o sucesso da empreitada e a importância do trabalho de formiguinha que cabe a cada um de nós para melhorar a vida ao redor.
Ricardo Lima participará como palestrante do Ciclo de Palestras do Paraty Eco Festival (16 a 19 de outubro de 2014). Pedimos que falasse aqui brevemente sobre a diferença entre artesanato e arte popular. Mesmo considerando o assunto complexo demais para uma “breve fala”, disse: “Para mim, são coisas radicalmente distintas. O termo ‘artesanato’ se refere ao processo de feitura de um objeto – feito à mão no caso, em oposição a ‘objeto industrial’, enquanto ‘arte’ se refere ao campo de significado do objeto. As duas coisas são distintas e não precisam estar em oposição. Não hierarquizo artesanato e arte popular.”
Fonte: Camila Maria - Relacionamento Institucional - Instituto Colibri
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