Numa época em que o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente são preocupações recorrentes, é necessário colaborar na propagação da ideologia do “ecologicamente correto”. A indústria têxtil – um setor significativo da economia brasileira – aderiu à “onda verde” e, atualmente, a moda ecológica é responsável por movimentar entre R$ 270 e R$ 362 milhões por ano.
Conhecida também por ecomoda, esta tendência consiste em utilizar o que seria jogado fora para confeccionar roupas, sapatos e acessórios. As matérias-primas são as mais diversas: restos de madeira, garrafas PET, fibras de bambu, sementes, algodão orgânico, modal e lyocell (materiais provenientes da polpa da madeira de árvores reflorestadas) e, ainda, sobras de tecidos das fábricas. Vale tudo para aproveitar os materiais: a única restrição é com a madeira, que só pode ser usada se for certificada, ou seja, se contribuir para o desenvolvimento social e econômico das comunidades florestais das quais é retirada.
O problema é que, na imaginação de quem nunca viu os produtos da moda ecológica, fica difícil crer que uma camiseta feita de garrafa PET, por exemplo, possa realmente ficar bonita e fazer sucesso. No entanto, de acordo com Aline Schiengold, responsável pela criação da Bhuda Khe Rhi, marca especializada em roupas de ecomoda, a aceitação do público para com esse segmento tem sido grande. Tudo porque os tecidos ecológicos possuem características exclusivas na hora de atrair os consumidores. “O toque desses tecidos é extremamente agradável. Algumas cores tornam-se diferenciadas devido à composição do fio e, também, algumas fibras naturais como, por exemplo, a do bambu, têm características específicas, como maior evaporação de suor”, afirmou Aline.
Outra questão é que ainda existem pessoas que têm preconceitos em relação aos produtos sustentáveis, geralmente fazendo ligação com a ideologia hippie ou até mesmo com os “bichos-grilo” e “eco-chatos”, como foram apelidados os simpatizantes da causa verde.
O designer gráfico Paulo Rogério Nunes se descobriu apaixonado pelas roupas feitas de tecidos 100% orgânicos quando ganhou uma camisa de presente de aniversário de uma amiga. “É uma peça muito bem cortada, super sofisticada. Vou trabalhar com ela, saio para jantar. Se engana quem acha que vai sair vestido de bambu como se fosse um nativo. Muito pelo contrário. Descobri que é possível estar bem vestido e ajudar o meu planeta ao mesmo tempo”.
Em relação às diferenças entre as roupas comuns e as peças ecológicas, pode-se dizer que elas são similares quanto ao aspecto visual. Bruno Abrantes, um dos proprietários da loja Eco 3R, especializada em moda ecológica, ressaltou particularidades essenciais, que deveriam ser levadas em conta pelo consumidor na hora de optar ou não pelo produto ecológico. “As roupas que encontramos nas vitrines por aí não costumam ser benéficas ao meio ambiente em sua produção e descarte. Já as ecologicamente corretas poupam vidas, geram renda, são bonitas e colaboram muito para a preservação do meio ambiente”, explicou o lojista.
A moda ecológica, além de englobar a ideia da sustentabilidade e preservação do planeta, também está ligada ao social. Toda a produção de uma peça de roupa feita com garrafa PET, por exemplo, gera empregos para cooperativas de catadores, dando sustento para cerca de 250 mil trabalhadores dessa área, além de fábricas de tecidos e confecções. E, para a maioria das empresas desse ramo, um dos aspectos mais importantes de todo esse processo é o combate à exploração do trabalhador.
Acessórios
Outra manifestação da eco-moda são as biojóias. De acordo com o artesão Daniel Lopes, as peças são feitas principalmente de sementes de árvores, como a jarina, o babaçu e o tucumã. Além disso, a casca de ovo de avestruz e a madeira com certificação fazem parte das matérias-primas utilizadas.
Segundo Lopes, as pessoas gostam das biojóias ou jóias naturais, como ele prefere chamar. “As pessoas compram minhas peças também pelo design ou originalidade, mas acredito que, em geral, valorizam a matéria-prima e sua origem, aumentando o número daqueles que se preocupam com consumo consciente e o meio ambiente”.
Independentemente do produto, Aline Schiengold acredita que a ecomoda seja uma saída eficiente para driblar os problemas ambientais que o planeta vivencia atualmente. “Fazer uma moda de sucesso com tecidos ecologicamente corretos é a prova de que há alternativas viáveis para colaborar com o planeta. O importante é buscar essas opções em todas as áreas do nosso cotidiano”, disse a estilista.
Preços
Aqueles que desejam exercitar o consumo consciente, no entanto, precisam saber que a sustentabilidade pode custar caro, literalmente: calcula-se que as roupas politicamente corretas custem 30% a mais que as tradicionais. Uma blusa de tecidoorgânico, por exemplo, chega a valer o triplo de uma blusa de algodão, poliéster ou nylon. O alto preço se justifica por uma série de razões. Na confecção, não são utilizados tecidos importados, que, muitas vezes, são produzidos por mão de obra escrava ou explorada, como afirma o artesão Daniel Lopes. Pela falta de demanda do mercado, trata-se, também, de produções em menor escala, o que aumenta o custo das peças.
Bruno Abrantes, da loja ECO 3R, diz que há consumidores que, por desconhecerem o processo de produção, reclamam dos preços. “Algumas pessoas costumam dizer que já que os materiais, teoricamente, vieram do lixo, deveriam ser de graça. Mas essa é uma ideia errada”.
Na tentativa de atingir todos os públicos, algumas empresas têm desenvolvido estratégias de redução de preço. É o caso da Hanesbrands, junto com a rede Wal-Mart e a Embrapa, que criaram calcinhas, cuecas, roupas para bebês e camisetas, todas sustentáveis, a preço popular.
Claudio Stein, diretor e sócio da loja Bhuda Khe Rhi, admite que, para encontrar itens de boa qualidade no setor sustentável, ainda é preciso desembolsar um dinheiro a mais. Porém, Stein afirma que já é possível encontrar peças feitas a partir de garrafas PET recicladas com valores acessíveis. “A tendência é que, com a expansão desse mercado, a diferença entre os preços dos produtos ecológicos e não-ecológicos diminua cada vez mais”.
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